Como o próprio título infere, o objeto antigo possui um fetiche. Este artigo discursa sobre este conceito relacionando-o à Freud e suas indicações sobre a regressão ao seio maternal. Fala também dos arranjos das mobílias nos espaços contemporâneos e como interpretá-los, mostrando sua função utilitária e simbólica.
Abstratct.
Sobre a ambiência contemporânea. Significado dos objetos antigos e modernos na configuração espacial residencial. Reflexões sobre o arranjo do mobiliário contemporâneo.
Folheando revistas de arquitetura e decoração, pode-se observar como se configura o mobiliário atual. A leitura que fazemos desta conformação, inclusive espacial, nos fornecerá a imagem das estruturas familiares e sociais de nossos dias. Percebe-se que na sua grande maioria, os espaços contemporâneos ainda permanecem separados e unifuncionais tendendo a uma utilização específica das diversas funções familiares. O espaço para cozinhar, para comer, para receber visitas, para dormir, para a higiene. Estes tendem a ser bastante preenchidos e em muitos casos vê-se a acumulação barroca com tinturas museológicas. Entretanto, percebe-se o recente surgimento de novas estruturas espaciais abertas e mudança nas relações do indivíduo com a família e sociedade. São chamados espaços multifuncionais – Lofts.
Os móveis e objetos decorativos se olham e estabelecem um diálogo, muitas vezes mais simbólico do que funcional. Esta estrutura tende a organizar-se em relação à um eixo simétrico, hierárquico, de tradição e ordem, refletindo, igualmente, aspectos afetivos da família.
Ainda há espaço para buffets, armoires, vitrines, camas com dossel, grandes mesas de jantar, espelhos gigantes e imensos candelabros de cristal, entre outras peças. A organização patriarcal burguesa está presente, toda estruturada e fechada em si. Como cita Baudrillard:
"domesticam-se as culturas dos objetos técnicos por meio dos antigos objetos"
"Descubra nossa coleção de arte transformada em lenços de seda pura! Fusão perfeita entre arte e moda!"
Aos objetos domésticos da contemporaneidade, intercalam-se os objetos antigos que podem ser de diferentes épocas e estilos, trazidos por herança ou gosto e reflexo do desejo de permanência e imortalidade, senão pela procura de status e do apelo aristocrático. Livros raros antigos ao lado de aparelhos de som altamente tecnológicos, cabeças de bichos empalhados ao lado de aparelhos de ar condicionado e por aí seguimos.
Detalhando mais esta afirmação, podemos dizer que o objeto antigo possui uma história. Ele não deixa de ser decorativo nem funcional mas sua maior função é o que ele significa: o tempo. Ele existe na ambiência como signo de nascimento e origem. Busca-se nele o conforto emocional e a certeza da continuidade de nossa existência. Ele seria o equivalente ao confort food.
Baudrillard explora bem este assunto e coloca uma questão fundamental: de onde surge esta necessidade da posse de algo antigo, seja ele um velho móvel de família, um objeto “autêntico” artesanal? Parece que a resposta encontra-se na necessidade de aculturação, seja por parte dos povos desenvolvidos em busca de signos do passado e fora do seu sistema cultural, seja por parte dos povos subdesenvolvidos à procura da atualidade da industrialização e da tecnologia. Tudo resume-se a Cronos - o fascínio pela busca do tempo perdido.
O objeto antigo é auto referente e portanto “autêntico”. Ele permaneceu no tempo. Ele é a prova de sua própria existência, em contraposição ao objeto moderno que existe somente no tempo presente, não tendo ainda adquirido seu status sígnico de mito. O objeto moderno é funcional, prático eficiente ou tecnológico, mas isto não garante a sua existência nos “retratos de família”.
Um ambiente ascético, clean, do tipo monástico,
pode ser bonito numa foto mas quando o vivenciamos no dia a dia torna-se árido, descartando memórias e afetos.
Como diz a famosa frase “Freud explica”, o desejo de posse de um objeto antigo relaciona-se igualmente ao colecionismo que por sua vez afilia-se à regressão narcisista. Impõem-se uma necessidade de conhecimento das origens, de ter tido um pai e uma mãe. Esta regressão para as raízes simboliza a volta ao seio materno.
Quanto à autenticidade, ela está ligada ao amor por aquilo que foi criado com a mão, pela singularidade da peça, pela origem da obra, com nome, data e assinatura. O objeto autêntico congela o ato criativo em si próprio e pertence não somente ao autor como ao seu possuidor/fruidor.
O fetiche do objeto antigo é ter atributos mágicos ou simbólicos mas somente para quem o possui. É um discurso subjetivo, feito para si próprio, onde se manifesta a angústia pela volta à infância, às origens ou ao útero.
Créditos
Autora:
Suzana Mara Sacchi Padovano
Data:
6/3/2015
Fotos:
Pinterest.com
Bibliografia
BAUDRILLARD,
Jean.
. France:
Edition Gallimard, 1968
MOLES,
Abraham
Barcelona: Gustavo Gilli, 1989.
COELH0
NETO, José Teixeira.
Nota do autor
Alguns
autores não consideram a palavra estilo apropriada para uso na descrição dos
modelos arquitetônicos.
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E-mail: arqface.contato@gmail.comarqface.contato@gmail.com
Brasil
Como o próprio título infere, o objeto antigo possui um fetiche. Este artigo discursa sobre este conceito relacionando-o à Freud e suas indicações sobre a regressão ao seio maternal. Fala também dos arranjos das mobílias nos espaços contemporâneos e como interpretá-los, mostrando sua função utilitária e simbólica.
Abstratct.
Sobre a ambiência contemporânea. Significado dos objetos antigos e modernos na configuração espacial residencial. Reflexões sobre o arranjo do mobiliário contemporâneo.
Folheando revistas de arquitetura e decoração, pode-se observar como se configura o mobiliário atual. A leitura que fazemos desta conformação, inclusive espacial, nos fornecerá a imagem das estruturas familiares e sociais de nossos dias. Percebe-se que na sua grande maioria, os espaços contemporâneos ainda permanecem separados e unifuncionais tendendo a uma utilização específica das diversas funções familiares. O espaço para cozinhar, para comer, para receber visitas, para dormir, para a higiene. Estes tendem a ser bastante preenchidos e em muitos casos vê-se a acumulação barroca com tinturas museológicas. Entretanto, percebe-se o recente surgimento de novas estruturas espaciais abertas e mudança nas relações do indivíduo com a família e sociedade. São chamados espaços multifuncionais – Lofts.
Os móveis e objetos decorativos se olham e estabelecem um diálogo, muitas vezes mais simbólico do que funcional. Esta estrutura tende a organizar-se em relação à um eixo simétrico, hierárquico, de tradição e ordem, refletindo, igualmente, aspectos afetivos da família.
Ainda há espaço para buffets, armoires, vitrines, camas com dossel, grandes mesas de jantar, espelhos gigantes e imensos candelabros de cristal, entre outras peças. A organização patriarcal burguesa está presente, toda estruturada e fechada em si. Como cita Baudrillard: “domesticam-se as culturas dos objetos técnicos por meio dos objetos antigos”.
"Descubra nossa coleção de arte transformada em lenços de seda pura! Fusão perfeita entre arte e moda!"
Aos objetos domésticos da contemporaneidade, intercalam-se os objetos antigos que podem ser de diferentes épocas e estilos, trazidos por herança ou gosto e reflexo do desejo de permanência e imortalidade, senão pela procura de status e do apelo aristocrático. Livros raros antigos ao lado de aparelhos de som altamente tecnológicos, cabeças de bichos empalhados ao lado de aparelhos de ar condicionado e por aí seguimos.
Detalhando mais esta afirmação, podemos dizer que o objeto antigo possui uma história. Ele não deixa de ser decorativo nem funcional mas sua maior função é o que ele significa: o tempo. Ele existe na ambiência como signo de nascimento e origem. Busca-se nele o conforto emocional e a certeza da continuidade de nossa existência. Ele seria o equivalente ao confort food.
Baudrillard explora bem este assunto e coloca uma questão fundamental: de onde surge esta necessidade da posse de algo antigo, seja ele um velho móvel de família, um objeto “autêntico” artesanal? Parece que a resposta encontra-se na necessidade de aculturação, seja por parte dos povos desenvolvidos em busca de signos do passado e fora do seu sistema cultural, seja por parte dos povos subdesenvolvidos à procura da atualidade da industrialização e da tecnologia. Tudo resume-se a Cronos - o fascínio pela busca do tempo perdido.
O objeto antigo é auto referente e portanto “autêntico”. Ele permaneceu no tempo. Ele é a prova de sua própria existência, em contraposição ao objeto moderno que existe somente no tempo presente, não tendo ainda adquirido seu status sígnico de mito. O objeto moderno é funcional, prático eficiente ou tecnológico, mas isto não garante a sua existência nos “retratos de família”.
Um ambiente ascético, clean, do tipo monástico, pode ser bonito numa foto mas quando o vivenciamos no dia a dia torna-se árido, descartando memórias e afetos.
Como diz a famosa frase “Freud explica”, o desejo de posse de um objeto antigo relaciona-se igualmente ao colecionismo que por sua vez afilia-se à regressão narcisista. Impõem-se uma necessidade de conhecimento das origens, de ter tido um pai e uma mãe. Esta regressão para as raízes simboliza a volta ao seio materno.
Quanto à autenticidade, ela está ligada ao amor por aquilo que foi criado com a mão, pela singularidade da peça, pela origem da obra, com nome, data e assinatura. O objeto autêntico congela o ato criativo em si próprio e pertence não somente ao autor como ao seu possuidor/fruidor.
O fetiche do objeto antigo é ter atributos mágicos ou simbólicos mas somente para quem o possui. É um discurso subjetivo, feito para si próprio, onde se manifesta a angústia pela volta à infância, às origens ou ao útero.
Créditos
Autora: Suzana Mara Sacchi Padovano
Data: 6/3/2015
Fotos: Pinterest.com
Bibliografia
BAUDRILLARD, Jean. Le système des objets. France: Edition Gallimard, 1968
MOLES, Abraham. Teoria de los objetos. Barcelona: Gustavo Gilli, 1989.
COELH0 NETO, José Teixeira. Por uma Teoria da Informação Estética. São Paulo: Monitor, 1973.
Nota do autor
Alguns autores não consideram a palavra estilo apropriada para uso na descrição dos modelos arquitetônicos.
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